O assunto incesto apareceu na mídia nos últimos dias em função de um programa de tv, que mostrava pai e filha em situações íntimas, que atiçaram o imaginário das pessoas.
Em primeiro lugar é necessário deixar claro que incesto não é abuso, muito embora alguns abusadores cometam incesto quando abusam de seus parentes em linha ascendente, descendente ou lateral. O abusador não quer sexo, ele busca poder e dominação; abusadores, abusam de mulheres, crianças, homens e até de animais. Já o incesto, por mais estranho que possa parecer, trás na consumação do ato, a decisão consensual entre os envolvidos. Não há violência entre as partes. Também, é necessário deixar claro que o incesto não é crime, pelo menos de acordo com o código penal brasileiro, embora seja em outros países. A Alemanha, exemplo de avanços sociais e legais, considera o incesto crime. Então não há uma visão única desse assunto em todas as culturas, ao menos no campo jurídico.
Se olharmos a bíblia nós encontraremos muitos casos de incesto, como Abraão e Sara (Gênesis 20) – Naor e Milca (Gênesis 11), Ló e filhas (Gênesis 19), Anrão e Joquebede (Êxodo 6), Tamar e Judá (Gênesis 38), Amnon e Tamar (II Samuel 13).
Então porque o incesto é considerado imoral e não é aceito, horrorizando os que tomam conhecimento de atos incestuosos e impondo sobre aqueles que o praticaram uma marca que os excluem do meio social?
Para tentar esclarecer isso, temos que retomar o mito do pai da horda, O mito do pai primitivo, violento, dono todas as fêmeas e que expulsava seus filhos à medida em que fossem crescendo”. Os filhos, excluídos, se constituíram numa oposição a esse pai e matam o pai tirano. Depois, ele é comido e, cada um, absorvendo um pedaço do pai, cria uma identificação com ele, e se apropriam da sua força.
A necessidade sexual tornou todos rivais e, para que não ocorresse com todos o que tinha ocorrido com o pai, instituíram a proibição do incesto para que pudessem viver juntos. Caso isso não fosse respeitado, seria impossível viver em sociedade.
Assim mesmo, após alguns milênios de civilização, ainda nos deparamos com o incesto e devido á facilidade gerada pelos meios de comunicação e redes sociais, aquilo que antes ficava confinado entre 4 paredes passou a ser exposto, numa espetacularização do que era impensável algum tempo atrás.
A intimidade mudou sua configuração, o que chamávamos de intimidade hoje pode ser chamada de extimidade, ou intimidade explícita. Escancarar a intimidade passou a gerar aceitação social, criou um processo de identificação, e de outro lado gerou a polarização; quem não concorda com o estilo de vida alheio passou a atacar o diferente. As diferenças estão passando por um momento crítico, há os que desejam impor seus valores e suas crenças, sejam os mais arrojados, sejam os mais conservadores.
Nesse contexto, o incesto, é apenas mais um assunto entre outros que saiu do armário e por ter saído do armário gerou radicalização de setores mais conservadores, religiosos e políticos.
No meu ponto de vista, embora o assunto não passe impune no divã, e cause transtorno para muitos, considero que o importante é viver bem e ser feliz, sendo que considero felicidade, cada um viver de acordo com os seus valores e exercer seus talentos. Então se você tem uma relação incestuosa, mas é feliz e próspero, o que o outro diz ou pensa a respeito, diz muito mais sobre esse outro falador do que sobre aquele que está na relação. Seja feliz na sua relação incestuosa e deixe falarem.