Alguns termos utilizados na psicanálise, psicologia e psiquiatria se tornaram comuns, e passaram a fazer parte do vocabulário coloquial para identificar pessoas com algum tipo de atitude nos relacionamentos sociais que, ao olhar dos outros, foge àquilo que é considerado um comportamento normal; se é que se pode falar em normal! O mais apropriado seria trocar o termo comportamento normal por comportamento aceitável socialmente.
Se perguntarmos para a grande maioria das pessoas o que significa determinado termo, ela irá elaborar uma definição baseada no seu imaginário; quase sempre sem nenhum vínculo com o que o termo significa para um profissional da área, o que dá margem ao preconceito e a proliferação de ideias errôneas. Só quem foi diagnosticado com um transtorno psíquico e aqueles que convivem com uma pessoa nessas condições sabem o peso que um termo desses implica na vida do indivíduo que o carrega. Se torna um estigma para a maioria deles e também para os familiares. O preconceito com a questão é maior que o preconceito com o homossexual, com o velho, com o gordo e com o negro por exemplo.
São considerados incapazes para uma enorme quantidade de atividades. São excluídos do convívio social, às vezes até apartados do núcleo familiar e isso só amplia o sofrimento que uma pessoa nessa situação já está submetida. Todos acabam colocados na vala comum destinada aos loucos, inúteis e imprestáveis.
Mas como fazer quando a questão bate á nossa porta? Quando percebemos que um dos nossos irmãos, pais, filhos ou parceiros amorosos estão sofrendo de algum tipo de acometimento que os torna potenciais candidatos a carregar um desses adjetivos?
A única resposta possível, no meu ponto de vista, é encarar situação. Nunca fugir ou negar!
Estatisticamente, tem-se uma estimativa de 2% da população geral com Personalidade Borderline, significando 10% dos pacientes psiquiátricos em geral e 70% são do sexo feminino.
O Borderline vive uma dor profunda, dilacerante que passa a fazer parte da identidade do indivíduo, jogando-o na violência, marginalização e autodestruição. Como características comportamentais apresenta uma forte instabilidade de sua auto imagem e auto estima, idealiza relacionamentos que podem ser intensos mas quase sempre pouco duradouros, é impulsivo, tem acessos de raiva, expressa um sentimento de vazio desesperador, provoca em si lesões físicas, não suporta frustrações, não consegue terminar atividades a que se propõe fazer e sofre de um terrível medo de ser abandonado. Ele se aborrece com qualquer assunto que não lhe diga respeito, necessitando ser sempre o centro de tudo e acaba se afastando as pessoas. O borderline possui um enorme complexo de inferioridade. Isso muitas vezes é compensado com fantasias de poder e genialidade. Faz exigências absurdas a si mesmo e aos outros.
Tudo isso acarreta sofrimento para si como para os seus parentes próximos e para aqueles que com ele convivem por qualquer razão.
É comum o paciente borderline quando em tratamento psicanalítico, faltar ás sessões sem justificar ou dando desculpas banais e, faz isso porque tem dificuldade em perceber o outro e valorizar a ajuda; outra razão disso é sua tentativa de negar a dependência em qualquer nível e também porque supõe que o psicanalista não está nem aí para ele.
Frente a tudo isso o que fazer?
Podemos dizer que é fundamental abordar as questões que ele trás e aos poucos ir desmontando suas fantasias, estabelecendo vínculo e fazendo laço.
Para os parentes e amigos é necessário encaminhar a pessoa para tratamento e cuidar para que o tratamento seja seguido. Também e necessário conhecer as características comportamentais e estar atento ás atitudes da pessoa para reagir de acordo.
Lembre-se que essa pessoa tem um medo gigantesco da solidão, de rupturas de relacionamentos, bem como de ser rejeitado. Fique atento a ameaças de suicídio e auto mutilação. Mantenha uma rotina doméstica agradável e crie uma rede de apoio junto com amigos e demais parentes. Não leve as atitudes do borderline para o lado pessoal. Suas atitudes podem esconder atrás da agressividade um medo de entrar em contato com assuntos delicados e, apesar da agressividade, suas críticas podem ter fundamento. Ouça o que ele diz com atenção e não menospreze seu ponto de vista. Seja assertivo na sua comunicação com a pessoa, procure usar comunicação curta e sem rodeios. Deixe claro para a pessoa se as atitudes dela foram aprovadas ou desaprovadas e nunca se deixe levar pela insistência dela caso a solicitação não tenha cabimento.
E finalmente, estabeleça um limite para você mesmo. Apesar de você amar a pessoa, é necessário que o seu respeito por você mesmo seja mantido para que possa apoiar seu ente querido.